quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Clarice em Escassez - Por Ricardo Mota

Um texto de um amigo, do qual fiz questão de colocar no meu blog, ao Ricardo, aqui está o seu Texto "Clarice em Escassez".


Determinado a mergulhar num desses livros que desenterram vontades atenuadas e nos contam segredos obscuros da alma, fui à caça de uma obra de Clarice Lispector.


A Aventura começa desde casa quando acordei com umas de suas frases martelando a minha consciência incognoscível, deste modo me fiz crer que iria deverás atrás dela.


Não contente em entrar nessa peregrinação sozinho, arrastei o meu amigável primo, camuflei a minha ânsia e lhe contem que iríamos apenas comprar camisetas, coisas sem graça, logo, ele se deleitou sobre a minha inofensiva quimera.


Com minha vontade latente em pensamento, seguimos rumo à trilha dos tijolos amarelos, viajamos nas listras dos tecidos e ironizamos as cores grotescas do verão. Inventamos de mergulhar na maré do consumismo e gastamos tudo o que não podíamos, tivemos um momento fast food no vermelho e amarelo e debochamos dos escravos do sistema do tio Ronald.


Aparentemente eu tinha me esquecido de Lispector e ela de mim, quando veio tocar novamente a campainha da obsessão, assim fui obrigado a acentuar o pequeno guri que entraríamos no país das maravilhas e daríamos logo por oficializada a busca por Clarice.


Entramos em um beco que não é o Diagonal, porém nos revelou o paraíso, pois o paraíso poderia sim existir meio a tantas capas coloridas e folhas amareladas, vimos todos os imortais, contistas, romancistas, ensaístas, poetas exceto a hermética Ucraniana; ela mesmo não estava ali.


Ouvimos o segundo “Ah, Clarice não tem!” e notamos a tristeza florescer na face de uma vendedora amante dos singulares livros.


Seguimos ainda contentes para a próxima esquina, olhamos, procuramos e apenas vimos o Bentinho tentando destruir a imagem de boa moça de Capitu, o galante Dorian extasiado por sua beleza retratada num quadro e uma nordestina perdida em seus quatorze títulos questionando para que lhe serviria a felicidade.


Já tinha me dado por vencido (pensei em utilizar “caro leitor”, mas estaria me rendendo às narrativas de Assis e talvez não seja muito propício logo que estou transbordando Clarice) quando vimos um fiozinho de imortalidade brotando da prateleira me fiz crer e não apenas eu, mas o dono da livraria e meu companheiro, que sim era possível encontrarmos a autora de “Água Viva”, contudo para minha estupefação e não apenas a minha! ; Lá que vinha Macabéa com seu rádio emprestado, ouvindo a estação Rádio Relógio colocando deste modo um ponto final na minha esotérico esperança.


Acreditei que tal inquietação deixaria de existir por algum tempo, no entanto ela que plantou em mim a semente da necessidade, naquele exato momento impedia que a noites de chuvas tempestivas acontecessem.


Perplexo, deturpado, desencorajado, decepcionado com o abordo da missão, não apenas eu, pois meu primo também havia entrado nessa caçada, fomos embora cabisbaixo e calados; Ainda agora continuo.


Continuo ainda mais agora! Por me obrigar a relatar essa escassez desenfreada de Clarice.




Um comentário:

  1. Partilho do lamento de Ricardo... acho digno ele saber... e tbém saber q não poderia ficar por menos.. o texto é sensacional... fz juz ao lamento!

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